Velásquez, meu caro amigo Vicente, tenho pensado em Velásquez. Sua mudez, seu silêncio, a pintura só pintura. Nossas épocas se assemelham muito. Sua pintura surge fazendo calar o palavrório que existia, como hoje, sobre a pintura. Nada de som, ruído, simplesmente a pintura calada, caladíssima como um grito. Também hoje a pintura está cheia de preconceitos, estudos, curadorias, pesquisas, uma corte de bufões que saprofita os artistas (que desejam ser saprofitados). Velásquez tinha a dimensão do Rei Felipe. Eram como que iguais ou quase, sendo Velásquez maior, já que quando estava se demorando na Itália, Felipe insistia pra que ele voltasse à corte, enquanto Velásquez nunca pediu a Felipe para que fosse à Itália. Hoje, ainda que decadente, reina oficialmente as "artes plásticas". O pintor (certos pintores) tem vergonha de ser chamado de pintor para não ser confundindo com o pintor de parede. Imagine. Estuda para aprender o que não se aprende na escola. De modo que não desaprendem nunca, algo muito fundamental para o bom artista. "Forma-se" em pintura, faz-se carreirismo de exposições (nada mais banal e elitista hoje que exposição de artes plásticas), faz a corte da mídia, emascula-se diante dos críticos e curadores e não tem idealismo nenhum. Jogo de vaidades, nulidades, socialaitismos. Velásquez não. Ele era amigo do Rei, das meninas do Rei, decorava o Escorial, possuía as chaves de todos os cômodos...pobre época a nossa dos valores invertidos, sem "reis", sem "papas" (você e Sol são exceções).
Como ex-jornalista, de jornalista para jornalista, tomo a liberdade de lhe sugerir uma pauta: o caso da negativa do Brasil em abrigar o Guggenheim Museu no Rio. Ontem o Ministro Gil declarou-se contrário à instalação do Museu ( imagine que o Brasil teria de pagar 20 milhões de dólares de royalties à matriz de Nova Iorque. Será que Bilbao pagou? ) Disse o ministro que o dinheiro do Ministério era para a preservação do Patrimônio Histórico...mas, a verdade é que faltou coragem dele e de outros para dizer que o problema não é o Museu e sim o que eles põe dentro, ou seja, uma arte discutível, replicante, e que se presta ao colonialismo cultural.
Quem diria, a Espanha culturalmente colonizada...
Vicente, receba um abraço muito especial. Não quero mais tomar seu tempo, nem o meu, pois que o dia está bonito e eu tenho aqui na minha frente 500 quilômetros de mar da Bahia.mas escreva sempre que quiser.
Oscar
Sent: Monday, February 03, 2003 12:32 PM
Querido amigo, muchas gracias por informarme de las idas y venidas de tu maravilloso cuadro que no quiere viajar a tierras extrañas y ha decidido regresar al calor del hogar. Todo lo contrario del hijo pródigo, que se marchó muy pronto de casa y tuvo que regresar, como decimos en mi tierra, "con el rabo entre las piernas". Gracias de nuevo por preocuparte y por realizar los trámites para que tus hermosas flores crucen el Atlántico hasta que podamos "trasplantarlas" a nuestro jardin. Te doy las gracias otra vez y te envío un fuerte abrazo para tí y tu mujer. Vicente.