Postado por Redação Pautando Minas (editor) em 10 de julho de 2015, sexta.
Foto: Reprodução/Oscar Araripe
Fico triste, muito triste quando vejo que até uma revista como a Carta Capital publica sem pensar (?) propaganda colonizante da Art Basel, uma “lavanderia” deslavada, sediada num paraíso fiscal chamado Suíça, que confessa sigilo de suas vendas; ou seja, um templo de vendilhões de moedas falsas – como?
A Arte motiva a arte. A Beleza é leve, alegre e radiosa. É privilégio prodigioso da Arte que o triste, artisticamente expresso, se torne alegre, e que o radioso encha o ser de alegria calma. A Alegria autoriza o fazer; daí ser a matéria-prima da Arte. Nada que não seja belo poderá ser prático. O Belo é necessário e útil e nem sempre o intelecto justifica o Belo. A Beleza tem a verdade da beleza e o pintor é o mais belo dos homens, junto com o jardineiro e o poeta. Dir-se-ia o pintor a borboleta. Na verdade, sei e não sei o que é a Beleza, porque ela está em muitas coisas e na coisa nenhuma. Sei que uma boa pintura vê-se num átimo de segundo, quando começa a viver e a cor do inexistente brilha, mais viva ainda. A arte de fazer a arte, eis a verdadeira arte. O pintor triste pode voar, mas o alegre vence as galáxias.
No entanto, fico triste, muito triste quando vejo que até uma revista como a Carta Capital publica sem pensar (?) propaganda colonizante da Art Basel, uma “lavanderia” deslavada, sediada num paraíso fiscal chamado Suíça, que confessa sigilo de suas vendas; ou seja, um templo de vendilhões de moedas falsas – como? Como o Mino Carta se presta a difundir com alardeados ares de sucesso matéria tão nefasta para a arte, tão primária, tão equivocada e prejudicial à cultura do nosso país? Ouça Mino, publique o Brasil! Se não por consciência, por gentileza.
Pois saiba, nasci com a visão, sei naturalmente onde achar o Belo e a Arte. E se tudo é escrita, a pintura é a mais bela arte. A mais rara. Grande convenção humana, bem mais antiga do que a palavra, a cor é uma invenção da visão. Ou seria o contrário? Rara matéria, rara vida, rara alegria. Ou seja, a Arte é ainda mais rara que a matéria. Pois ainda que muita, a matéria é pouca, muito pouca no Universo. A Arte, portanto, é uma estrela extravagante. Pode tudo, deseja tudo e diz tudo. Arte, vida, cor. Busco as cores como uma esperança de vida. Em Arte, ou se inventa um planeta pessoal, ou se morre na Lua (ou na Basiléia). A Arte é a mãe de todas as vidas.
No entanto, a ditatorial mídia insiste em dizer e repetir, e outra vez repetir, que tudo é arte. Ora, tudo é arte, exceto a Arte. E aqui lanço um desafio ao Mino e sua Carta e a toda a imprensa da ditadura: diga lá, aqui e acolá, onde está a Arte? Não transcreva, escreva, não replique, inaugure. Façam a arte da informação. Ouçam os artistas do Brasil.
Pois saibam, senhores da repressão: a escritura e a pintura são faces da mesma mão – e a grafia deve ser elegante, e o lápis afinar o estilo. De pouco vale saber que a técnica sabe e a arte fabrica. A pessoa carrega o artista. Poetava e filosofava, era povo e era nobre. Escolho o tema e me revelo. Poucas tintas, muitas cores. E ali estava a Arte fazendo ciência (e até pintando flores pretas), a Arte querida, solidária e eternamente humana. No invisível: é aí que começa a Arte. E eis a Pintura, a mais bela das artes, a mais livre, a que mais permanece, a que mais “prende” a vida, a que mais silêncio grita e a que mais pessoalidade possui. Eu criador da vida, para pintá-la com as cores da saíra-das-sete-cores. O que mais pode querer um pintor senão voar e ser invisível?
Enfim. A Arte precede o conceito. Em toda boa arte existe conceito. Mas, jamais um conceito pode ser uma obra de arte. As palavras podem ser revolucionárias, mas só a pintura muda o mundo. Eu pintor, o fazedor de olhos. Sempre estive perto da linha, a liberdade como regra; afinal, eu era a linha - e é sempre assim: começo pintando um leão e termino me retratando, simplesmente porque é mais fácil. Escrever para não esquecer e pintar para não lembrar. Pois pintar é como escrever, só que sem barulho. Dura escritura, leve e radiosa pintura. Confesso, roubei de tudo, de comida a paisagens, de paisagens a amores e, por isso, sou pintor. Melhor que pintar é ser pintor.
No entanto, querido leitor, como é difícil ser pintor num país onde o Governo e a mídia dizem que não tem pintura. O país das mais belas paisagens sem pinturas. Onde os governantes, os gestores, os acadêmicos, os empresários, os políticos e os bandidos definham na rudeza de uma apagada e vil tristeza. Como é difícil ser artista na terra da injustiça e do colonialismo cultural. Impossível – diriam os senhores. No entanto, estamos aí. Sozinhos, mas estamos. No entanto, no entanto, entretanto... que tristeza!!!