Memória e Justiça
Quem conhece o pintor Oscar Araripe, cordial e pronto a receber na Fundação que leva o seu nome, clientes, admiradores de sua arte e amigos de todos os laços, talvez não conheça o jovem Araripe, estudante da Faculdade Nacional de Direito e diretor eleito do Centro Acadêmico Cândido de Oliveira – o famoso CACO, de grande importância como símbolo de resistência cidadã.
Não deve conhecer também o escritor e jornalista combativo que escreveu seu nome na história ao lutar, desde sempre, pelas liberdades democráticas. Por tudo isso, a noite de 1º de junho foi de fortes emoções para Araripe e cerca de 20 personalidades que, 52 anos depois, tiveram devolvido, simbolicamente, o mandato de membros da diretoria do CACO, legitimamente conquistado em eleição e cassado pela ditadura, que viria mudar, para sempre, a vida de todos

Oscar Araripe e o desembargador José Muiños Piñeiro, no Salão Nobre da Faculdade Nacional de Direito (FND) no Rio, ao receber de volta o diploma de diretor eleito do Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, que lhe foi cassado em 1964: solenidade emocionante e de forte simbolismo. (Foto: Acervo Pessoal)
Noite de emoções
Na oportunidade, Oscar Araripe fez bela saudação, como de costume, e emocionou a platéia que lotou o imponente salão da Faculdade de Direito, no centro do Rio. “…. sempre que a democracia é assassinada, a inversão de valores se estabelece e até vira regra, ao ponto da corrupção e do fisiologismo assumirem o papel que, pela ordem natural e democrática, deveria ser o da nossa virtude e do nosso mérito” E finalizou:
“Jamais pensei que na Faculdade onde fui impedido de entrar, como tantos outros, e cassado da minha representatividade eleita, e da minha liberdade de ir e vir, e do curso natural da minha vida, viesse um dia, num belo dia dourado e esperado como este, receber de volta o meu mandato de diretor do Caco, o meu mais belo diploma. Nada melhor. Nada maior que um mandato duplicado e justamente reconfirmado. A Nacional de Direito, sempre na vanguarda das liberdades democráticas, neste belo ato de Resistência de Transição, cria e inaugura esta expressão libertária, infelizmente dorida, mas necessária”.