O Brasil Nunca Mais o Brasil
Autor: Oscar Araripe
Descrição técnica:
O Brasil Nunca Mais o Brasil / 5 estórias sem palavras
190 imagens sequencializadas
Duração total: 22 minutos
Materiais artísticos: nanquin chino, nanquim colorido, lápis, lápis de cor, acrílico, bico-de-pena, pastel a óleo, markers, pincel, pincel de pluma e pincel chinês.
Tecnologia utilizada: arte tratada, digitalizada, editada e finalizada em ambiente digital, com zoom e alguma animação.
Justificativa:
Nos anos 80, após terminar uma longa trilogia literária, cansado do verbo, achatei as palavras e criei 1.200 imagens, as quais denominei “Os Pilares”, na crença de serem as bases da minha nova pintura.
Era uma obra praticamente impossível de ser exposta. E eu tinha consciência disto.
À época, contudo, com as novidades tecnológicas emergentes imaginei que tais "estórias" pudessem ser contadas através de projeções ao ar-livre, nas praças e lugares de grande concentração de pessoas, algo que só agora é possível com a utilização das plataformas digitais e a criação dos grandes telões de TV e das Fachadas Digitais.
São, em síntese, imagens seqüenciais digitalizadas que contam estórias. Ou seja, são estórias sem palavras ou eventualmente insinuadas com ligeiros títulos ou textos poéticos.
Gosto muito do silêncio das imagens. Nada mais silencioso e grandioso que o silêncio de uma imagem bem pintada. Esta qualidade, creio, é o grande diferencial da imagem, especialmente encontrada numa boa pintura. Ser silenciosa para poder gritar. De fato, quanto mais silenciosa a imagem menos ruído possui, e mais grito grita. Um grito que cala, profundamente, no coração de quem a contempla.
Mas, seria possível contar estórias somente com imagens?
Creio que sim. O Brasil Nunca Mais o Brasil é uma seleção de 190 imagens destes Pilares, tratadas, digitalizadas, editadas e finalizadas em ambiente digital, com zoom e alguma animação, e distribuídas em 5 estórias, a saber:
1- O Areião ou Itabira Mon Amour
2- O Docodema ou O Governo do Poeta
3- O Piauí da Paraíba, mulher macho sim senhor
4- O Sabuji ou Nossas águas tem mais peixes
5- O Uaupés ou Somos todos Amazônicos
São "transcrições visionadas" que se situam em um sítio imaginário, localizadas, poeticamente, em vários locais do Brasil. Resultam de um método ou prática artística que cria uma ponte memorialista entre um passado pessoal poético muito remoto e um presente proto-histórico imaginado. Creio poder com a obra prestar um serviço à preservação da memória pessoal e da criação artística, ao propor uma "ecologia da arte”, já que a preservação do passado, ainda que tão-só imaginado, é a maior garantia de permanência da arte atual e futura. É, portanto, uma obra de fortes e originais conexões visuais, explícitas e implícitas, artísticas, culturais e memoriais -, da pintura com a literatura e a crítica, destas com a história, a sociologia, a filosofia e a psicologia - e de todas com a própria arte, e desta com as novas tecnologias digitais. Destaco a multiplicidade de sua fantasia formal e cromática, de estilo rigoroso e facilmente reconhecido, onde cada quadro é um quadro, cada assinatura autoral uma assinatura única, com sua pessoalidade forte e sua beleza fresca e viva, querendo dizer que o que importa na arte é se tem vida ou não. Creio estarmos no reino da vida e da beleza, ainda que o que se pretenda é inventariar, poeticamente, uma arqueotipia imaginária e pessoal, criadora de uma realidade pictórica inicial. Tal provocação pretende envolver várias províncias do conhecimento e ajudar a suscitar a discussão necessária ao resgate da arte e seu valor social transformador.
Por suas características inovadoras, a exposição O Brasil Nunca Mais o Brasil, é também pioneira, por tratar-se de uma nova maneira formal tecnológica de transformar e apresentar arte expositiva.
Há 40 anos, a ideia contida no título O Brasil Nunca Mais o Brasil era quase que exclusivamente ecológica, ainda que incluísse uma “ecologia da arte”; ou seja, chamava-se a atenção e até mesmo se denunciava que sem a proteção das artes iniciais e anteriores (rupestre, clássica, moderna) não seria possível garantir a existência futura da arte contemporânea. Hoje, contudo, infelizmente, o título é muito mais abrangente. E não só aplicável ao Brasil. Pode-se dizer “Os Estados Unidos nunca mais os Estados Unidos”, “A Itália nunca mais a Itália”, “A França nunca mais a França”, e por aí vai. Ou seja, algo de muito essencial está se perdendo, irreparavelmente.
É certo, porém, que o morto e o vivo se insinuam e coexistem. Ao detectar o morto, estamos também sublinhando o vivo.
As palavras, contudo, e nem mesmo as imagens são suficientes para expressar esta perda de essências, tão vitais. Nem seus possíveis ganhos.
Mas, creio que tais essências estão bem mais próximas das imagens que das palavras. Daí, estas minhas estórias sem palavras, a dizer e repetir: Animem-se!
Oscar Araripe
Maio 2018