Semeando Flores
Oscar Araripe
Quando o José Oswaldo de Miranda Jr. me convidou a expor no Museu Inimá de Paula, eu aceitei de imediato, pela gentileza do gesto e a excelência do museu, e pensei em mostrar as minhas “flores que não são flores”, pois acabara de fazer quatro exposições na Universidade de Harvard (Flores para Harvard) e logo me surgiu a idéia ou mesmo a necessidade de chamá-la Flores para Inimá. Como expor flores no Museu Inimá e não dedicá-las ao belo pintor mineiro ? Ademais , eu gostava muito do Inimá e de sua pintura. E ele gostava da minha. Expusemos juntos, há uns 30 anos, em Ouro Preto. E ainda que umas duas gerações nos separasse tínhamos , além da pintura, muitas coisas em comum: o Rio, o Ceará, a paisagem de Minas, a crença na vida das cores e nas cores da vida, a busca da Beleza e da Poesia, as marinhas, o casario mineiro, os retratos e autorretratos e, por fim, as flores.
As flores movem o mundo. Foram elas que introduziram na Terra, no cretáceo inferior, a solução da sedução para a perpetuação das espécies, o que, para nós, é o Amor. Ou seja, estamos aqui por causa das flores. É o tema mais difícil de inovar na Pintura, pois talvez seja o mais pintado. Revolução em Pintura, portanto, é pintar um novo jarro de flores, nada mais que isto. Ademais, pintar flores, hoje, e mais que nunca, é um ato de amor à vida. Altamente subversivo, belamente subversivo, pois as flores estão se extinguindo e sua industrialização tende a reduzi-las à poucas. Onde as dálias, os camarás, as madresilvas, as onze horas, o manacá-de-cheiro, as cristas de galo, os jasmins-do-brejo...?
Pintar flores que não são flores creio ser o sonho dos pintores. Nelas, alcançamos a maturidade plástica, pois são formas e cores, tão-somente, pura imaginação, ou seja, pura pintura, puro silêncio. Aqui já estamos livres das Histórias e estorinhas, da literatura, da anedota, da filosofia, do conceito... ou seja, quanto mais silêncio mais pintura, mais imagem. Assim é o silêncio que grita.