"Como restauradora, digo que uma parte bem considerável da arte de nosso tempo poderá se perder devido ao desconhecimento dos materiais usados. De modo que me surpreendeu, logo de início, que exatamente um autodidata como Oscar Araripe visse me procurar a fim de obter uma indicação sobre uma tela que fosse tão transparente e vítrea como o papel vegetal e que tivesse a durabilidade ainda maior que os suportes tradicionais.
Queria Araripe que seu pincel pudesse correr "ligeiro ao ritmo da substância e absolutamente fiel ao primeiro toque ". Bem, por sorte eu tinha o que ele queria : uma vela náutica que uso como base para os meus restauros. Ela tem pouquíssima mobilidade, é de alta permanência, pode molhar e aguenta grande calor...Então ele se fechou numa salinha aqui mesmo no meu atelier e horas depois tinha uma telinha linda nas mãos. E digo linda porque ainda que talvez devesse me restringir, pelo próprio peso da minha profissão, ao aspecto técnico, não o faço; pois Araripe é um grande pintor. Um lindo pintor, sem dúvidas".
Marylka Mendes, 1989, in catálogo - Restauradora e Catedrática de História da Arte e Restauração da Universidade Federal do Rio de Janeiro.