Auto-retrato com a Serra de São José de Tiradentes
Oscar Araripe
Texto Curatorial e Ensaio Crítico
I. Texto Curatorial Museológico (PT / EN)
Português
Neste Auto-retrato com a Serra de São José de Tiradentes, Oscar Araripe articula uma imagem que transcende a autorrepresentação convencional para se afirmar como construção simbólica de identidade, memória e território. A figura do artista surge frontal, serena, marcada por uma economia formal que privilegia a clareza estrutural e o silêncio expressivo.
O rosto, tratado por planos sutis e contornos definidos, afasta-se do naturalismo para aproximar-se de uma dimensão quase arquetípica. O tempo manifesta-se não como decadência, mas como permanência: os cabelos e a barba brancos funcionam como índices de experiência e continuidade.
A Serra de São José, ao fundo, assume papel central na composição. Mais do que paisagem, ela se apresenta como extensão simbólica do sujeito. Sua construção rítmica, feita de grafismos e campos cromáticos vibrantes, sugere um território vivido, internalizado, onde natureza e memória se fundem.
O autorretrato afirma, assim, uma poética da permanência. Oscar Araripe não se representa isolado, mas inscrito na paisagem que o constitui.
English
In Self-Portrait with the Serra de São José of Tiradentes, Oscar Araripe constructs an image that moves beyond conventional self-representation to assert itself as a symbolic articulation of identity, memory, and territory. The artist’s figure appears frontal and serene, shaped by a formal economy that favors structural clarity and expressive restraint.
The face, rendered through subtle planes and defined contours, distances itself from naturalism and approaches an almost archetypal dimension. Time is not depicted as decay, but as continuity: the white hair and beard operate as signs of experience and permanence.
The Serra de São José, in the background, assumes a central role within the composition. More than a landscape, it emerges as a symbolic extension of the subject. Its rhythmic construction suggests a lived and internalized territory where nature and memory intertwine.
The self-portrait thus affirms a poetics of permanence. Araripe does not depict himself in isolation, but as inscribed within the landscape that shapes him.