Marinho Antunes faz video da entronização da tela Flores para São Francisco em Monte Alverne, de Oscar Araripe, na Igreja de São Francisco em São João del
Bolsista na Itália dos anos sessenta, na Universidade Pro-Deo, de Roma, visitei Assis dezena de vezes. A cada visita mais me encantava com a linda cidadezinha e a extraordinária história de Francisco. Recentemente, a revisitei, em companhia de minha esposa Cidinha, me detendo nos lugares onde o santo exemplificou a sua fé, de elevadíssima moral, e mais que nunca me comovi com sua lição de simplicidade, tão bela.
São Francisco nos ensinou a riqueza da pobreza e do despojamento; a grandeza e a fortaleza da humildade; a coragem da verdade, a natureza valorosa de todos os seres, animados e inanimados e a exemplar vida vivida no Amor e nos passos de Cristo. Hoje, Francisco seria um poeta-jardineiro exemplar. Certamente estaria pregando o respeito à natureza, a criação do santuário da Amazônia, da Mata Atlântica, da Mantiqueira, do Cerrado, do Pantanal. Mais certo ainda, estaria pensando no santuário da própria Terra; quiçá do Universo.
Convidado pela Venerável Ordem Terceira de São Francisco, nas comemorações de seus 800 anos, e nos dois séculos e meio do início da construção da Igreja de São Francisco de São João del Rei; a pintar uma tela que humildemente lembrasse estas datas, várias questões se me apresentaram desafiantes. Entre elas, qual o momento da vida do amado santo seria uma síntese de sua existência? Todos; concluí. Mas, há uns anos, revisitando Monte Alverne, nas proximidades de Assis, meditando sobre a rudeza do solo e o isolamento do local, entendi um pouco o sentido de ali ele ter recebido a benção dos estigmas; o muito do pouco que lhe faltava para a almejada vida de Cristo que preconizou para todos nós, a partir dele próprio. Francisco foi um santo que falou aos olhos! Outra questão, também muito relevante: devia eu usar o ouro e a prata na minha pintura do momento em que Francisco se torna santo com a graça de Deus? Esteticamente estas duas cores me trariam a Beleza; mas… Bem; Belchior, o rei mago, presenteou o menino Jesus com ouro - e a prata simbolizaria a luz da Lua, tão claramente amada na pessoa de Santa Clara. Foi o bastante!
Flores para Sao Francisco de Assis! Um presente singelo; nada maior, nada melhor - creio.